Feliz - 2012

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sábado, 19 de fevereiro de 2011


Casamento requer Preparação



A maior parte do grande número de crises no casamento e de divórcios que ocorre nos dias de hoje é o resultado da falta de uma adequada preparação para a vida adulta a dois. Para remediar essa situação, devemos primeiramente tirar de nossa mente qualquer outro arranjo entre pessoas que não seja o matrimônio.

Comecemos a refletir sobre esse assunto à luz do que nos diz o livro de Gênesis. Encontramos ali um plano prontamente acessível para construir um casamento feliz: “Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne”
(Gen 2, 24).

Esse versículo contém algumas condições que devem ser cumpridas para um casamento; e essas condições devem ser cumpridas antes mesmo do casal por o pé na Igreja. Temos aqui requisitos específicos para construir uma união duradoura, e que devem ser realizados antes de dar início à vida matrimonial. A despreocupação em realizar essas condições preliminares é uma das principais causas do número crescente de casamentos fracassados que nos assola hoje em dia.


A sequência correta

O primeiro princípio contido no verso bíblico é uma clara sequência de passos:

1. Deixar
2. Unir-se
3. Tornar-se uma só carne

A própria ordem desses estágios testifica o gênio do autor inspirado. Já há milhares de anos atrás, um homem deixou escrito em uma curta sentença uma verdade lógica que permanece até hoje. Uma união bem sucedida entre um homem e uma mulher deve ser construída nessa ordem: primeiro o casal deve deixar seus pais, então eles devem entrar no matrimônio (formalmente, e não apenas vivendo juntos, mas seguindo um procedimento estabelecido), e só então é que podem formar uma completa união espiritual e corporal. A união corporal é o complemento e realização total da união espiritual. Por si mesma, a união corporal não é completa, mas a espiritual ou afetiva também não é completa por si só (nem mesmo quando devidamente abençoada) enquanto não for “consumada” na carne. Vamos agora refletir um pouco na sequência relatada, pois o sucesso do matrimônio depende da observação da sequência correta.

Hoje em dia vemos a prática comum de inverter a ordem e ignorar os requisitos de cada estágio sucessivo. É muito comum os jovens primeiro “consumarem” o casamento (terem relação sexual mesmo antes de ser um casamento), usufruindo dos prazeres do corpo e criando “uma só carne” – mas apenas em um sentido corporal, que trivializa e degrada o valor da verdadeira união. Só depois começam a pensar onde vão morar, muitas vezes sem condições de cuidar de si mesmos – se não financeiramente, pelo menos profissionalmente. O casal não vai resolver o problema indo morar com os seus pais. Desse modo, eles não só invertem a ordem dos estágios, como também deixam de cumprir os requisitos de cada estágio. O que temos, então, é um dramático paradoxo, que traz a destruição do casamento antes mesmo dele começar.

O texto bíblico nos fala claramente que observar a sequência correta é uma condição básica para ter um casamento duradouro. Igualmente importante é o cumprimento dos requisitos de cada estágio separado.

1. Deixar

Deixar os próprios pais é uma condição para um casamento feliz. Assim como uma criança não pode se desenvolver plenamente sem deixar o útero da mãe e cortar ter o seu cordão umbilical cortado, do mesmo modo um casamento não pode se desenvolver plenamente sem que o casal deixe seus pais. Embora deixar o pai e a mãe normalmente seja um acontecimento acompanhado de um certo grau de sofrimento e dor, é uma dor necessária, que deve ser superada, pelo bem do casamento.

O versículo do livro do Gênesis faz uma referência específica ao homem, mas é óbvio que isso se aplica tanto ao homem quanto à mulher. A circunstância tem mais a ver com o fato de que, em todas as culturas e tradições, sempre tem sido o homem aquele que leva a responsabilidade de construir um novo lar e levar sua noiva para esse novo lar.

A fim de realizar esse primeiro estágio, o casal deve adquirir independência profissional. Eles devem adquirir uma condição que procure garantir um emprego capaz de sustentar a eles e à nova família. Depois eles devem ganhar um certo grau de independência financeira, que permitirá a mudança, da casa dos pais para a nova casa. Essa mudança é absolutamente necessária. É a maneira visível, exterior, através da qual o casal deixa seus pais, se separa deles, e adquirem um senso de independência e liberdade para agir por si mesmos. Igualmente importante nesse primeiro estágio é ganhar a independência emocional e psicológica necessária para viver sem ter que ser “levado pela mão”. Isso envolve a aquisição de habilidades básicas de vida, como cuidar da própria saúde e se responsabilizar sozinho por formalidades legais. Também tem a ver com esse estágio: ser capaz de assumir responsabilidade por si e pelas próprias ações; prontidão em assumir responsabilidade pelos outros – pela esposa ou marido e pelos futuros filhos; prontidão em se sacrificar pelos outros e aceitar o sofrimento; e, finalmente, conhecimento dos princípios morais básicos, os dez Mandamentos e o Catecismo, incluindo o significado sacramental do matrimônio.

É muito comum os pais dificultarem esses passos na vida dos filhos. Agindo assim, eles fragilizam psicologicamente seus filhos, fazendo-os dependentes financeiramente e psicologicamente dos pais. Em alguns casos, chegam a construir grandes casas, com planos de ter os filhos casados morando com eles. Esse é um sério engano, que ocasiona grande prejuízo para os filhos. Deixar a casa para estudar em outra cidade contribui muito para um jovem se tornar independente em muitos níveis. O serviço militar também pode ser de ajuda para amadurecer uma pessoa. No passado, era mais fácil cumprir esse estágio na vida antes do casamento. As pessoas amadureciam psicologicamente mais rápido do que hoje. Situações extremas, como guerras, aceleravam a entrada dos jovens no mundo dos adultos. Havia também uma outra compreensão do papel dos pais, do homem e da mulher na sociedade. Sob as condições atuais, em que a maturidade emocional e psicológica e um senso de responsabilidade por si e pelos outros chega muito depois da maturidade física, sair um pouco de casa, mesmo pagando o preço de atrasar um casamento, pode ser uma condição necessária para se construir uma união duradoura.

Mudar-se para outro lar não significa cortar relações com os pais, nem significa a negação da obrigação que os filhos têm para com relação aos pais, particularmente quando eles alcançam uma idade mais avançada. O que uma mudança para um novo lar faz é criar um nível inicial de conforto para ambos os lados, e facilitar o desenvolvimento de respeito mútuo. É mais fácil respeitar o outro à distância, quando um lado não está dependente de outro. Viver junto com os pais pode ter suas vantagens, mas elas são superadas em muito pelas desvantagens. Nessa situação de morar com os pais, pode acontecer um estado de grande tensão e estresse. Em situações nas quais isso não pode ser evitado, é necessária uma grande dose de tolerância e de compreensão de ambas as partes. Mas um arranjo assim deve sempre ser considerado temporário e transitório, tendo sempre em mente a necessidade de ter sua vida independente.

Portanto, a casa, o lar do casal, é essencial para a formação de um casamento duradouro, e para a obtenção do grau mais alto de humanização. “Somente realizando uma ruptura com essa realidade inicial, e sendo capaz de confiar a própria vida a outra pessoa, é que revelamos aquela qualidade específica através da qual podemos ser vistos como imagem e semelhança de Deus” (Z. Kiernikowski, Two in One Body in Christ).

O cumprimento interior e exterior do primeiro estágio (deixar os pais) também significa o reconhecimento de que, de agora em diante, a esposa ou o marido é a pessoa mais importante de nossa vida. Deixar nossos pais significa que amadurecemos ao ponto de compreender que, embora os pais continuem sendo importantes para nós, eles já não são mais tão importantes como eram antes de sairmos de casa. Nós passamos a reconhecer que a pessoa de maior importância para nós agora é o marido ou esposa. Depois dele ou dela, vem o fruto de nossa união – nossos filhos – e só depois nossos pais, parentes, amigos etc. Os pais também devem aceitar essa realidade, e não esperar que seus filhos casados os tratem como mais importantes que o marido ou esposa.

Deixar os pais também significa ter e ser capaz de se confiar nas mãos de outra pessoa. Isso envolve um grande risco. Quando deixamos nossos pais e rompemos nossa dependência para com eles, damos um corajoso passo. Nós nos lançamos nos braços de alguém com quem não guardamos laços de sangue. Esse ato de confiança ao marido ou esposa é algo de diferente comparado com o relacionamento anterior com os pais. Com eles, fomos, acima de tudo, recebedores de bens e de cuidados solícitos. Nossos pais nos serviam devotamente. Agora, assumimos o papel de provedores de bens e de cuidado para os outros. Isso significa uma transição, de uma posição na qual somos servidos, para uma posição na qual servimos. Deixar a casa dos pais é, portanto, uma transição para um nível de valores muito mais alto. Esse passo é um passo extraordinariamente difícil, arriscado, e, de fato, impossível de se atingir completamente. Porém, na dimensão nova, na qual Cristo é a realização plena, esse ideal se torna possível, principalmente através da Eucaristia, que é o meio pelo qual o humanamente impossível se torna possível.

Talvez esse estágio, mais do que qualquer outro, necessite que ambos os lados, os filhos que estão deixando a casa, e os pais que precisam aceitar essa partida, possam basear suas decisões humanas no poder da Graça Divina.

Continua...

Fonte: vidaecastidade.blogspot.com

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